Quero mostrar-te agora um modo diferente de olhares para ti mesmo, levar-te a um lugar onde a mudança pode ocorrer, mas sem luta, sem exerceres uma pressão ditatorial sobre ti mesmo. Um modo que cria tranquilidade e paz no teu coração. Deixa-me dar-te um exemplo.
Imagina que te acontece algo que te desperta uma emoção de irritação. Podes reagir a essa irritação de 3 formas diferentes:
- Se não estiveres acostumado a refletir sobre as tuas emoções, então não há nada aí além da irritação. Estás com irritação e ponto final. Estás envolvido nela, identificas-te com ela. Neste caso, geralmente pões a culpa da tua irritação do lado de fora de ti, projetas a culpa noutra pessoa. Alguém fez algo de errado e é por culpa dele ou dela que estás irritado. Esta é a reação mais primária.
- Outro modo de reagires consiste em reprimir a emoção. No momento em que sentes a irritação, uma voz na sua cabeça diz-te: “não deveria estar a sentir isto, é errado, tenho que reprimir esta emoção.”
Provavelmente devido à tua formação religiosa ou a uma perspetiva da sociedade aprendeste a reprimir a irritação.
O que é que acontece neste caso? Sentes a emoção, neste caso irritação, e imediatamente surge um julgamento a respeito dela: “isto não é permitido, isto é errado.” Então, a tua irritação transforma-se no teu lado sombra porque está proibida de vir à Luz, não deve ser vista.
O que acontece quando a irritação é reprimida? Não desaparece, vai para trás de ti para afetar-te de várias maneiras. Pode fazer, por exemplo, com que te tornes assustado e ansioso. Podes até pensar que por sentires estas emoções és diferente dos outros e começares, por isso, a afastar-te, a isolares-te.
Acreditas que podes mostrar o teu lado doce, agradável, prestativo, mas não esse teu lado exaltado, irritado, rebelde. E assim, a irritação fica trancada. Esta atitude gera um amargo conflito no teu interior, um conflito entre aparentemente dois eus – um eu Luz e um eu Sombra. Ficar preso nesse jogo doloroso irá magoar-te internamente pois não podes expressar-te.
A repressão das tuas próprias emoções vai levar-te ao ideal de um ser humano pacífico e amoroso? Quando te descrevo tudo isto, podes ver claramente que este tipo de reação não funciona, não conduz à verdadeira paz, ao verdadeiro equilíbrio interior. O julgamento limita-te. Sente a energia que vive nos julgamentos que lanças sobre ti próprio devido às tuas crenças acerca do que é ideal.
- Existe um terceiro caminho, um terceiro modo de vivenciar as tuas próprias emoções humanas. Este modo consiste em permiti-las, deixá-las ser e transcendê-las.
Lidar com a emoção de um modo consciente significa que não te identificas com ela, não te perdes nela. Simplesmente observas a emoção com um sentimento de suavidade permitindo-a ser o que é.
“Sinto a raiva a surgir em mim, sinto-a percorrer o meu corpo. O meu estômago reage… ou meu coração. Os meus pensamentos correm para justificar a minha emoção. Os meus pensamentos dizem-me que eu é que estou certo e não a outra pessoa.” Podes observar tudo isto a acontecer-te mas, não mergulhas nisto, não te afogas nisto. Não te deixas envolver nem pela emoção nem pelo julgamento da emoção. Atinges, assim, um estado de desprendimento, pondo a descansar todos os “demónios” da tua vida: o medo, a raiva, a desconfiança. Quando te identificas com eles, ou quando os combates com o julgamento dás-lhes força. Das duas formas alimenta-os. O único modo de transcendê-los é elevares-te conscientemente acima deles deixando-os ser o que são.
É isto que a Consciência faz. A Consciência da qual falo não julga, é um estado de ser.
EmoticonEmoticon